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JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
A maioria das bactérias não faz mal a ninguém. Mesmo assim, todos os dias, zilhões de germes inocentes são exterminados por um arsenal cada vez maior e mais complexo de desinfetantes e sabonetes antissépticos.
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Essa matança injusta e indiscriminada de micro-organismos é desnecessária e pode fazer mal à saúde. "Com a morte de bactérias neutras, sobra mais espaço para nocivas", diz a médica Flávia Rossi, diretora do laboratório de microbiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Além de ocupar espaço e comer células mortas, bactérias neutras desempenham várias funções no organismo. Ajudam na síntese de vitaminas e no funcionamento do intestino, por exemplo.
O biólogo Marcos André Vannier-Santos vai além e diz que, sem os parasitas, os homens não seriam os mesmos. "Temos vários genes e enzimas de origem bacteriana. A coagulação sanguínea acontece graças a bactérias. A placenta foi formada a partir de um vírus", diz ele, que é pesquisador do laboratório de biomorfologia parasitária da Fundação Oswaldo Cruz,
É claro que muitos parasitas são nocivos e que os cuidados básicos com higiene são fundamentais, mas nada justifica uma certa paranoia desinfetante que está tomando ares de epidemia, a julgar pela quantidade de produtos "superpoderosos" que chegam ao mercado.
"Não é necessário ter em casa todos os cuidados que temos no ambiente hospitalar. Não precisa desinfetar todos os lugares. Água e sabão comum são suficientes", diz Stefan Cunha Ujvari, médico infectologista, autor do livro "Perigos Ocultos nas Paisagens Brasileiras _Como Evitar Doenças Infecciosas" (Senac/SP, 232 págs., R$ 45).
A professora de português Priscila Blazko, 34, é uma das adeptas dos produtos que matam 99% dos germes. "Leio os rótulos e compro aquele que mata mais", diz.
Quando seus dois filhos brincam na areia, Priscila exige que tirem a roupa antes de entrar em casa. "Eu sei, às vezes exagero."
Não só ela. Estamos todos sob influência da "cultura da higiene", na visão da antropóloga Sônia Weidner Maluf, professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
"A ideia do que é limpo e do que é sujo é construída socialmente. Na nossa cultura, tudo que não é esterilizado é sujo e causa doença."
Isso é incentivado, segundo ela, pelo medo coletivo. "As situações de risco são ampliadas pela publicidade, e as pessoas ficam com a ideia de que podem se contaminar a qualquer momento."
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